Particularidades da actividade física de crianças na iniciação ao treino do hóquei



Por: Jorge Pinto de Sousa (Médico)

Título: Particularidades da atividade física de crianças na iniciação ao treino do hóquei

Jorge Pinto de Sousa, líder do Departamento Médico da FPH, brinda-nos com mais um excelente conteúdo no regresso da rubrica "Consultório".

Desta vez, Jorge Pinto de Sousa discorre sobre as particularidades da atividade física de crianças na iniciação à modalidade. O médico fala-nos da importância das diferentes fases do processo de maturação física e psicológica da criança, recorrendo depois a exemplos práticos de como se devem treinar as capacidades coordenativas e condicionais.

Se tiveres questões/dúvidas que gostarias de ver esclarecidas/aprofundadas, sobre este artigo ou qualquer outra temática, por favor envia um e-mail com as mesmas para mcastro@fphoquei.pt. Estas dúvidas/questões serão esclarecidas no próximo "Consultório".

O PROCESSO DE MATURAÇÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA

1. Varia de indivíduo para indivíduo
 
Maturação precoce
Possibilidade da criação de auto imagens positivas e, mais tarde, negativas
Necessidade de reconhecer e explicar estas alterações
 
Maturação tardia
Possibilidade da criação de auto imagens negativas
Risco de desistência
Necessidade de Apoio especial

2.Não é linear
Há fases em que o crescimento é mais rápido.
O desenvolvimento motor abranda nas fases de crescimento rápido. Pelo que em fases de crescimento rápido é de esperar uma diminuição das capacidades motoras e coordenativas.
Necessidade de reconhecer e explicar estes fenómenos.

3. O Crescimento Ósseo precede o Desenvolvimento Muscular
O aumento de peso vem depois do crescimento em altura.
Em fases de crescimento não se deve promover grande desenvolvimento de massas musculares por potencial prejuízo do crescimento.
As capacidades físicas plenas só são atingidas entre os 15 e os 20 anos apesar de pelos 15 anos se atingir já uma adaptação biológica máxima.

4. Há diferenças de Maturação relacionadas com o sexo.
As raparigas têm um processo de Maturação mais precoce (cerca de 2 anos).
Até aos 14 anos rapazes e raparigas devem praticar em conjunto jogos de equipa.

ALGUMAS APLICAÇÕES PRÁTICAS
  • Capacidades Coordenativas - Ritmo, Ligação, Equilíbrio, Orientação Temporo - Espacial, Reação óptica e acústica
O sistema nervoso central é o substrato morfológico dos processos de aprendizagem e pelos 7 anos está terminada a estruturação das ligações neuronais.
Há uma elevada sensibilidade desde idades muito baixas para o treino destas capacidades coordenativas.
A «Segunda Etapa» só após os nove anos:
- Aprendizagem de Técnicas específicas;
- Utilização de exercícios especiais;
- Início de Atividade Competitiva.
  • Capacidades Condicionais - Resistência
O débito cardíaco é mais baixo na criança devido à diferença de tamanho = Sistema Cardiovascular Imaturo. A criança está limitada na libertação de calor interno para a superfície aquando de exercícios intensos a temperaturas elevadas.
A Capacidade de transporte de oxigénio é limitada na criança.
O volume sanguíneo, a concentração de hemoglobina e a hemoglobina total são mais baixos na criança o que pode implicar um potencial défice de suprimento sanguíneo periférico durante exercícios intensos em climas quentes.
A Ventilação máxima por minuto é mais baixa na criança o que implica fatigabilidade fácil em provas que exijam volumes respiratórios grandes.
Apesar daquelas limitações há uma razoável capacidade de adaptação do Sistema Cárdio-Circulatório e uma boa capacidade enzimática aeróbia.
Em resumo, o treino de resistência aeróbica tem um importante papel na saúde e rendimento futuros da criança.
Há sensibilidade por parte da criança para este tipo de treino em qualquer idade.
Mas são desaconselhados esforços prolongados e de alta intensidade por ser maior a fatigabilidade e estar a criança vocacionada para esforços intermitentes.
  • Capacidades Condicionais - Velocidade
A aparelhagem enzimática anaeróbia aumenta com a idade e só em adulto atinge valores máximos
Os níveis sanguíneos de lactato máximo são também mais baixos na criança.
A concentração e utilização do glicogénio muscular são mais baixas na criança pelo que é menor a sua capacidade para a realização de esforços anaeróbicos intensos (superiores a 10 segundos).
Para o treino de velocidade só há sensibilidade após os 7 anos de idade.
As distâncias a contemplar em treino deverão ser, portanto, entre os 10 e os 30 metros.
Devem ser permitidas longas pausas entre os exercícios que possibilitem uma total recuperação das fibras responsáveis por este tipo de movimentos (Fibras rápidas, brancas ou tipo II).
  • Capacidades Condicionais – Força
Para o treino de força só há sensibilidade após os oito anos.
Utilizando apenas jogos com a carga do próprio corpo.
A formação muscular deve ser multilateral, dirigida a todos os grupos musculares agonistas e antagonistas.
Em fases de crescimento não se deve promover grande desenvolvimento de massas musculares por risco de prejuízo do crescimento.
  • Flexibilidade
Na criança é uma capacidade a «manter».
Após o aquecimento e sem fadiga.
  • Termo-regulação
A taxa de sudorese é mais baixa na criança em valor absoluto e por unidade de superfície corporal.
O centro de temperatura necessita de temperaturas corporais mais altas para desencadear a sudorese o que implica uma baixa tolerância ao calor externo, sendo portanto maior o risco de «Golpe de Calor» em dias quentes e húmidos.

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